quarta-feira, 19 de março de 2014

São tantas as tentativas.

       Apaixonei-me por alguém que não amei; amei alguém por quem não me apaixonei. Gostei de pessoas que não gostavam de mim e me desfiz de pessoas que o faziam. Esqueci alguns sobrenomes, talvez algumas fisionomias, mas nunca momentos.
       Acho que uma das grandes dificuldades da pessoa humana é diferenciar os sentimentos, na realidade. Você apenas sabe que sente e sabe que está lá, só que nunca tem a coragem de desbravar ou questionar essa angústia. Por vergonha, medo, ou por saber que o melhor mesmo é deixar assim. Emily Dickinson mesma disse que "as misérias da conjetura são uma dor mais amena do que um fato de ferro endurecido por "Eu sei". Temo em dizer que essa é uma de minhas passagens preferidas e que tem um significado tão grande. Apenas depois de uns anos daí você talvez note que aquela pessoa não era tudo que você pensava dela, mas se isso acontecer, só digo que não te frustre porque acontece. Não que as pessoas mudem, mas a tua percepção delas faz esse papel.  Não digo que será bom, mas digo que será saudável.
          Se busca um motivo para a mudança dessas opiniões antes tão certas, você pode achar um bem grande, ou vários pequenos. Um dos principais que eu encontro é que depois de um tempo que se conhecem, as pessoas acham que não existem mais limites entre elas, que não é preciso medir as palavras, nem ao menos guardar alguns mínimos segredos. Segredos estes que geralmente não passam de lembranças de um dia que você não esperava ser tão bom e decidiu guardar aquela luz emanada por ele apenas pra ti, por um momento, antes de compartilhar como foi.
       Esses detalhes, então, se repetem numa situação contrária. Muitas vezes, a pessoa pode não ter todos os "critérios" para ser alguém importante pra ti, mas você vê nela algo tão extraordinariamente único, um mistério por trás do que ela representa pra ti. Ela te faz sentir diferente, de uma forma que ninguém mais é capaz de fazer. Isso é se apaixonar. Mesmo não estando junto, mesmo não tendo tanta intimidade, tu olha para a pessoa e sabe que ficará feliz quando ela estiver também. Você talvez odiará quem ela odeia por pura empatia e sentirá por suas perdas. Não de uma forma extremista, isso nunca, mas você sabe que é assim. 
        Querer ter a pessoa por perto, achar ela bonita, querida, engraçada, é um amigo acima de tudo. Isso é gostar. Ela pode te fazer bem, te ouvir ainda que também desabafe contigo, é pegar na sua mão quando for interessante simplesmente porque é bom. O tipo de bom que também não acontece com todos. 
      Acho que agora dá pra entender por que o nosso coração simplesmente não desiste de confundir tudo.