domingo, 28 de outubro de 2012

Sua partida seria um recomeço...

       O vento entra pelas venezianas de minha janela. O convido a entrar, lhe é mostrada a casa e assim o assisto ir embora novamente. Temo em dizer que foram as visitas mais rápidas que já recepcionei. Um simples beijo em minha face e lá se foi ele. Silencioso, fugaz, livre.
      Posso dizer que sinto sua falta quando as fortes chuvas o impedem de acenar para mim. Então busco sua presença ao notar as folhas das árvores, já dispostas no chão, sendo arrastadas para longe.
        O que realmente me encanta nesta gesticulação toda é que, embora o vento me envolva, ele me liberta. Embora lute contra minha ida, ele se aquieta, respeitosamente, e espera minha partida. Quando percebo, lá vem ele atrás de mim, apenas se certificando de que tudo ficará bem. E mesmo querendo eu que ele não me deixe, também deverei ceder à sua vontade de seguir adiante. Gostosa é nossa relação.
         Penso que não importa se falamos um para o outro: "Não se preocupe comigo.", óbvio que o faremos. Assim como perceberei algo errado caso ele não sopre por alguns dias, o mesmo ele fará caso minha janela fique cerrada por muito tempo.
         Vivemos uma vida de saudade, é verdade, mas nada que alguns minutos juntos não nos faça esquecer. Se estes se fazem apenas esporadicamente, é o suficiente. Simplesmente para eu saber que tudo entre a gente ainda pode ser intenso. Afinal, mesmo que não o veja, ainda sou capaz de senti-lo.




sábado, 27 de outubro de 2012

Café Literário...

       É incrível pensar que o fim do ano se aproxima. Penso em tudo que fiz e parece tão pouco, mas ao mesmo tempo sinto como se tivesse sido muito.
       Tivemos então, na manhã de hoje, uma atividade no Colégio Tiradentes. Um café literário, no qual os alunos expuseram seus trabalhos realizados no primeiro trimestre de 2012. Nós sabíamos que essa data chegaria, só que nos deparamos com ela um tanto cedo para nossas expectativas. Trabalhamos arduamente para que tudo desse certo. A professora organizadora então, Juliana Boeira, como correu nas últimas semanas atrás dos preparativos. Foi um tanto quanto emocionante estar ali vendo tudo dar tão certo depois de determinados momentos em que parecia que o mundo desabaria. 
    Seria equívoco de minha parte desconsiderar alguns agradecimentos. Obrigada, claro, aos professores organizadores que nos proporcionaram tal oportunidade de descontração meio à uma semana carente de sorrisos. Obrigada aos colegas que cooperaram com absolutamente tudo. Posso, e tenho certeza quando o faço, falar que todos, ao menos da minha turma, colaboraram. Seja levando os doces, organizando a mesa ou lendo seus poemas. Seja recebendo convidados, chegando na hora para cumprirem seus deveres ou na faxina no fim da comemoração. Agradeço aos atores e declamadores, afinal, sem eles não seria possível assistirmos tão excepcionais e emocionantes apresentações. Impossível não recordar cada mínimo detalhe nesta data presente. Guardanapos desenhados, bolos coloridos, cupcakes delicados.
         A cada nova entrada de palco, a cada diferente palavra pronunciada e lá vinham as lágrimas nos olhos daqueles que assistiam. Era deveras de grande satisfação ver o orgulho nos olhos de nossos professores, sorrindo e aplaudindo seus numerosos alunos.
       Tenho certeza que em cada um, esse dia deixou uma marca. Doce e cativante, se foi nossa espera. Restaram fotografias, memórias e talvez algumas guloseimas, mas estas últimas não durarão muito tempo. Diferente das primeiras, as quais ficarão ou nas estantes do quarto em porta-retratos ou simplesmente naquela estante mais especial que suporta um grande peso, uma estante chamada coração.     






quarta-feira, 3 de outubro de 2012

E tinha que ser logo agora?


E foi numa tarde úmida que ele percebeu o ano chegando ao fim.
Setembro nem sempre fora um mês tão interessante, mas para Otávio, até que esse estava se mostrando bem saliente. Ocorreram algumas brigas que o chatearam mais do que já pudera imaginar, algumas pessoas o surpreenderam tanto positiva quanto negativamente e passou a fazer certas atividades que há anos não se encontrava tempo para fazer. Deixou a internet de lado por um tempo e percebeu com isso que suas relações mudaram. Era como se quisesse ainda mais levantar de manhã para encontrar com aqueles que o faziam se sentir bem. Sabia que tinha saudade de ficar até de madrugada conversando nas sextas à noite, mas era deveras gostoso viver uma vida diferente. A dos livros.
Veio então a época das fortes chuvas. Eternizaram-se por três dias. Nada havia de fazer fora da casa. Arrumou seu quarto, mudou os móveis de lugar, fez uma limpeza no guarda-roupa, repintou alguns quadros velhos e desbotados. Até que um dia amanheceu e o vento já havia levado as nuvens escuras para longe. De volta a vida normal, Otávio foi acordado às oito horas da manhã de um sábado com uma ligação de Raquel:
- Vamos ao parque! - convidou ela.
- Não dá para ser à tarde? - contradisse ele.
- Ai, como reclama. Te encontro no teu apartamento em quarenta e cinco minutos. Sem discussão.
Raquel sabia que se ela não puxasse, Otávio não sairia. Então quando ela chegou, ainda teve que esperar ele colocar uma roupa apresentável. No parque, apenas conversaram por horas. Otávio contou sobre o que se passava em seu coração e Raquel o que se passava em sua mente. Foi estranho? Sim, foi estranho, mas foi como se por um instante ninguém soubesse de suas existências. Como se ninguém se importasse com eles a não ser eles mesmos, algo que gostariam que ocorresse mais seguidamente.  Compraram um algodão doce, tocaram o violão que Raquel havia levado, partilharam histórias ocorridas antes mesmo de se conhecerem e algo que não faziam desde os seis anos de idade, acenaram para um avião que arranhava os céus de Porto Alegre. Olharam no relógio, marcava duas e meia. Não é à toa que estavam se desdobrando de fome.
Foram ambos para a casa de Otávio e permaneceram lá assistindo um filme depois de alguns sanduíches. Logo que a pizza chegou, já de noite, Raquel viu que estava na hora de ir embora. Ela sabia que Otávio jamais sairia nem ao menos para leva-la até o elevador. Então levantou, pegou sua mochila e se dirigiu à porta.
-       Tchau, Otávio. Até um dia desses. Te cuida!
Ele não respondeu e a assistiu sair pela porta. Quando Raquel ouviu o elevador chegar ao seu andar, ouviu também um som vindo do apartamento. A porta se abriu.
-       Eu te levo em casa. – Disse Otávio ainda olhando para o chão
com a mão na maçaneta de sua porta.
            Raquel sorriu. Otávio enfim levantou o olhar. Caminharam até entrarem no elevador, a porta se fechou atrás deles. De repente, um som muito alto ecoou, tudo parou e escureceu. Otávio cutucou Raquel:
            - Depois reclama que eu não saio de casa.