segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

E foi-se, assim, como se fosse tão simples.

       Difícil negar que não lembramos como é ser primeiro ano. Impossível descrever toda tensão e nervosismo que passamos para que chegássemos no terceiro. Tanta paciência de outras pessoas para com nós, tanta persistência de nós para com outras pessoas. 
        Que saudade sentirei das manhãs mais gélidas que me agoniavam, mas que se tornaram especiais por causa de um amigo que chegou de bom humor. Não tem como dizer ao certo o que será daqui para a frente. Nos prometeram futuros promissores e que continuaríamos vendo os amigos, em contra partida há aqueles que disseram "vocês pensam que será assim, mas nada permanecerá igual". Intrigante pensar que o medo da mudança, mas a agonia da estabilidade nos assombram na mesma proporção. Queria eu poder dizer que os três anos aqui passados foram eternos, mas não. Tenho que assumir que aproveitei o quanto me permitiram que fosse aproveitado, e em alguns dias um pouco mais, mas tenho certa conclusão de que apenas alguns dias foram marcados por eternidades positivas. 
       Jamais esquecerei as discussões morais das aulas de história, as músicas embaralhadas de inglês, as aulas mais loucas de biologia da minha vida e, bom, as melhores aulas de matemática que jamais teria se não fosse o meu terceiro ano. Agora, sinto muito, mas aulas de slides... até hoje eu não sei o que aconteceu com aquelas minhas horas da manhã de Ensino Médio. 
       Enquanto cito tais aspectos, veem em mente rostos únicos e misteriosos. Contestadores, revoltados, prudentes, capitalistas, manifestantes, dançarinos, poetas, desenhistas, moralistas e legalistas. É uma marca, deveras, de três anos muito mais bem desenvolvidos, cheios de história e de crescimento pessoal do que os demais de Ensino Fundamental, e não canso de dizer isso.
       Como é complicado dizer Adeus. Tudo bem que foram apenas nove semanas de trimestrais e nove TAFs para a maioria dos formandos... Tá bom, paremos com os panos quentes, nove semanas de provas são muitas horas de sono inutilizadas, café tomado, borracha gasta, canetas sem tinta e lápis apontados. E pensar que em cada dia dessas nove semanas eu tive que assinar meu nome no mínimo três vezes por dia. Os corredores jamais serão os mesmos e o sol que nasce não mais será visto do mesmo ângulo.
           Tenho a crença de que a melhor parte dessa celebração toda de formatura seja sua companhia. Quem se forma contigo, quem está lá para te prestigiar. Amigos, familiares, teus médicos de infância que seja. Todos ali, contigo e por ti. É realmente muito carinho e gratidão.
            Sem mais delongas, era isso que, como formanda de uma instituição pela qual eu acabei criando um amor, eu sinto que deveria falar para a minha despedida. Só dizer, novamente, que a ficha caiu apenas um dia antes da última vez que utilizarei a boina como aluna. Palavra pesada esta, mas também é a ÚLTIMA vez que escrevo como aluna do Colégio Tiradentes da Brigada Militar.




segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Estava eu passando a minha farda quando olho pela janela.


De uma forma estranha, os carros não cessavam e o sol não tinha jeito de ser pôr.  Pensei que talvez fosse pelo fato de estar um pouco frio e, sei lá, a lua o tivesse pedido para que ficasse um pouco mais.

Tenho a certeza de que a lua nem sempre me acompanhou em todos os momentos mais nostálgicos ou talvez migratórios da minha vida, mas ela nunca se mostrou uma má companhia. Ela sempre foi sutil e muitas vezes me fez esquecer o que me agoniava. Estranho pensar, de fato, que ela também estava comigo em meus melhores sonhos, ainda que eles tenham se tornado uma raridade dentro de alguns dias. Ela estava lá quando eu percebi que não tinha mais o que fazer, quando escrevi mais do que minhas mãos deveriam suportar, quando vi um filme que me fez pensar, quando havia um livro que não me deixava descansar e também, inesperadamente, em algumas manhãs quando saía de casa para mais um dia imprevisto e sorteado nessa capital sem um devido lar.

De certa forma, ela me mostrou que tu nunca vai saber a hora que o fim chegará. Então, quando perceber, pedirá por apenas mais 5 minutos daquele sentimento. Aqueles 5 minutos adicionais que você se dá por direito ao final de cada momento marcante da tua vida. É como se tu te sentisse menos culpado ao prorrogar algo que foi (ou está sendo) bom. Como se tu tivesse aproveitado mais, vivido mais. Quando na realidade, nada passou do que realmente era para ser e dos seus minutos a mais.

Por muitas vezes prolonguei alguns momentos apenas para ter a certeza de que fiz o que realmente poderia até o fim. Esperei que as salas ficassem vazias e que no pátio houvessem apenas as folhas sob a brisa fria. Esperei para ouvir cada última palavra e aguardei, também, que o ferro secasse as borrifadas que dei em minha vestimenta para frisar.

É lógico que este texto não tem uma linha para seguir. Nem sempre falei da lua quando me referia a meus agradecimentos, e nem também da minha farda. Tudo acaba por se misturar, assim como os sentimentos que teimam em queimar. Chegamos no fim, andando cautelosamente em nosso flautim. Compusemos tão bem as nossas narrativas, que conseguimos vive-las sem menores iguarias. Nada no mundo nos fará repetir esse doce cansaço que queremos, por ora, extinguir.

terça-feira, 23 de julho de 2013

O mundo todo ou você?


O reconhecimento e o carisma são dois fantasmas sentimentais que deveriam nos flanquear pela rotina que decidirmos levar. Acredito que aprendi isso com uns vinte minutos de conversa que tive com meu tio-avô numa parada de ônibus. Por algum motivo, logo que uma criança passou correndo por nós, ele me dirigiu a palavra:
         - Minha jovem, feche os olhos e deixe a imaginação fluir. Apenas escute. Pense em todas aquelas pessoas mal-humoradas que passam por você pela rua, e talvez acredite que não vale a pena sorrir. Talvez pense que não vale a pena tentar, afinal, muitos já não conseguiram então, por que você, não é mesmo? Até que um dia ao acordar, é com pesar que deixa as cobertas e coloca a roupa mais confortável e apresentável que tiver para encarar o dia.
         Corre até a parada de ônibus, oh, você se atrasou. Por um acaso do destino, o motorista conhece você e simplesmente para o ônibus que já arrancava, apenas para lhe esperar. Você desconfia, mas agradece e senta-se num banco à esquerda. Ao chegar perto do serviço, desce do veículo e deve passar por aquela banca de jornal que cheira fortemente a tabaco. Antes de passar, pensa em atravessar a rua apenas para evitar contato com o senhor que nunca lhe cumprimenta. A preguiça de atravessar, porém, lhe toma e, hm, aquela manchete de jornal até que está interessante. Checa os bolsos e pelo visto há algumas moedas que foram o troco do seu café no dia anterior.
         - Não gosto de café, vô! O senhor deveria saber que crianças de onze anos não tomam café.
         - Troco do picolé, pronto! Feche os olhos de novo. Bom, pega então um exemplar e, com uma cara sonolenta demais para uma quinta-feira, vai pagar ao senhor fumante. Meu Deus! Ele sorri para você e, que surpresa, os olhos dele são escuros brilhantes, como você imaginava ser nas profundezas do oceano. Percebe que nunca tinha os observado. Sorri de volta, um sorriso torto de gratidão pelo jornal e vergonha por nunca antes ter tentado olhar aqueles olhos.
         Caminhando umas duas quadras, adentra o edifício em que trabalha e pensa em passar reto pelas secretarias que numa constância estranha estão sempre lixando as unhas. Porém, o dia mal começou e já a surpreendeu tanto, o que será que acontecerá se cumprimentá-las? Acaba de descobrir que você subirá no elevador com um cookie de chocolate nas mãos. Desde quando elas têm cookies?
         Já na sua sala, sua auxiliar de relatórios a espera com uma imensa papelada. Você apenas sorri e diz:
         - É isso pra hoje?
         Ao passo que ela faz uma careta e responde:
         - Está tudo bem com você?
         - Digamos que o mundo parece estar ao meu favor.
         A auxiliar ri e então lhe diz:
         - Ou é porque acham estranho você usando pantufas de garrinhas com uma roupa social.
         Neste momento, meu avô fez silêncio. Esperei ele continuar a narrar, mas olhei para o lado e ele apenas me observava com um olhar curioso. Meu rosto devia estar engraçado porque ele apenas desviou o olhar para pegar o dinheiro do ônibus que chegava enquanto dizia:
          - É uma metáfora, filha. Talvez você seja muito pequena e eu, um velho caduco, mas o que mudara? O mundo todo, ou você?
         Subimos no ônibus e não pensamos mais na história. Dois anos depois, meu tio-avô partiu sem me explicar a metáfora e, agora, quatro anos mais tarde, sinto sua falta e um certo aperto, pois acho que entendi a história e queria ter a garantia de que as pantufas chegariam em minhas mãos, um dia.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Um pouco do que eu talvez não tenha sido...

            Em um daqueles dias que tu te sente revoltado ou talvez simplesmente irritado com algo que está te acontecendo, acho que tu deveria ficar em silêncio, experiência própria, caro leitor. Ultimamente tenho me irritado fácil, ficado chateada por bobagem ou por nada mesmo. E então numa dessas crises que lembro ter tido alguns anos atrás, lembro que eu falei para um amigo: “Ninguém precisa de ninguém”. Todavia, hoje essa frase me parece tão triste e cheia de rancor. O que eu fui? No que me tornei? Eu gostei das mudanças que o tempo para mim armou?
            Fui uma criança feliz. Aprontava para qualquer um na hora que eu bem entendesse. Realmente não me importava com o mundo afora e, bom, das minhas memórias marcantes dessa época tão curta restam algumas vezes em que me escondi no sótão de casa e quase mandaram a polícia atrás de mim; quando levei meus primeiros sete pontos no queixo; duas vezes que fora queimada por taturanas, uma vez me escondendo (como sempre) em cima de uma árvore, e outra andando de bicicleta no pátio da casa em que fora criada e quando lacei meu gato e ele ficou pendurado no muro de casa. Ah, não tenho como esquecer que durante meus cinco até mais ou menos oito anos, as galinhas criadas na minha casa não tinham sossego. Fingia dar-lhes aula, inclusive andava de bicicleta com elas. Apavoradas, não eram capazes nem de me bicar. Doces bichinhos eram essas galinhas que até nomes possuíam. Se elas se tornaram meu almoço? Não! Talvez da minha família, mas meu não.
            Por volta dos meus onze, logo que troquei de escola, a vida me apresentou uma nova realidade. Fiz o melhor que pude e nunca ninguém percebeu que talvez eu guardasse certa infelicidade. Porém, para meu próprio bem, aprendi a esconder isso. Esconder até de mim mesma esse e mais tantos outros sentimentos. Achava que se ninguém soubesse o que eu realmente sentia, nada poderiam fazer para me atingir ou magoar ainda mais. Meu currículo nunca esteve melhor que nestes anos marcados por tardes quentes estudando no quarto. Talvez eu esteja reclamando agora por saber que existe vida diferente do que foi, mas na época eu até já tinha me acostumado e era feliz. Por que não seria? Para passar meu tempo livre, eu cozinhava. Fazia bolos, biscoitos, tortas. Não que ainda hoje não o faça, mas o pouco tempo da vida de vestibulanda (e também pelo fato de serem muito calóricas tais receitas) me impede de aproveitar das habilidades culinárias que minha avó me passara perante estes doces artesanais.
            Quando me formei na oitava série, me senti aliviada. Sairia da escola que me remetia tanta angústia. Angústia por não poder confiar, por não poder se mostrar, por não conseguir mudar tudo de errado a minha volta. E foi então na Escola de Ensino Médio que eu tive a oportunidade de me reinventar. Começar de novo uma história que tinha um grande potencial. Ainda que quisesse fortemente essa mudança toda, um certo eu inseguro ainda tomava parte de grande porcentagem do que eu poderia ser. Continuava a não demonstrar sentimentos e confiança era uma enorme barreira para mim. Mas acho que acabei tentando confiar em pessoas erradas e uma grande briga trouxe a tona o meu passado que eu insistia em fingir que não tinha sido mais que um sonho mal dormido. A antiga eu brigou com a nova, que tornou a ser o que era, talvez até um tanto mais fria.  Foi então que tentando reconquistar a minha amizade o meu amigo despertou a frase que iniciou esta narrativa. Extremamente irritada comigo mesma e me convencendo que eu estava errada em tentar mudar, eu profanei tais palavras que não fazem sentido. “Ninguém precisa de ninguém”, eu insistia em dizer. Só que se tu for parar para pensar, como eu já o fiz diversas vezes em dois anos, eu nunca estive sozinha.
            Por mais que houvesse muitas pessoas querendo que eu não conseguisse, ou simplesmente querendo que eu não existisse, havia minha família para me apoiar. Além disso, ainda que muitos considerem estúpido achar que animais de estimação não podem ser da família, bom, alguns têm o dom de ser. Eles estão sempre por perto, parecem até que sentem os dias que tu mais precisa de ajuda e chegam com olhos brilhantes que encaram os teus, como se dissessem:  “Também tenho dias assim, mas esqueçamo-los... Brincar?” E você sorri com essa ideia. Passado um ano da briga que me marcou pra valer, eu acabei tendo que ceder a algumas amizades e confessar que elas me faziam bem. Me faziam feliz, mas alguns ainda reclamavam “Por que você não demonstra quando gosta de algo?”. Bom, minha gente, isso ainda era a antiga eu dizendo para segurar um pouco. Estava muito bom para ser verdade. Até que eu percebi, ao completar dezesseis anos, algo que pretendo levar para o resto da vida. Percebi que eu gosto de perceber quando gostam de mim e, se eu quero poder confiar em alguém, esse mesmo alguém tem que poder saber que pode confiar em mim. Como então faria isso se não demonstrasse afeto?
            Chegando num último ensinamento dessa idade que não se pode pedir muito, ele se deu quando fui contar para uma amiga alguns acontecimentos que estavam, de certa forma, acoquinando minha mente e só dizia para ela: “Por que sim?” e ela me disse: “Ai, guria, tuas perguntas é que estão erradas. Tenta assim: por que não?”. E foi quando muito de tudo que está por vir fizeram sentido.
            Nós precisamos de mais pessoas que nós mesmos, sim. Se biologicamente já somos seres heterotróficos, por que não assumir logo que nossa necessidade vai além da sobrevivência? Quem não gosta de ser gostado e quem não gosta de ser amado. Isso não é paranóia nem pecado, é? Infelizmente, algumas pessoas não sabem lidar com esses sentimentos. Confundem tudo dentro do caldeirão da vida, mas um dia elas hão de aprender, tenho fé. Aos poucos a gente se acostuma e muda, é preciso e muitas vezes bom. Ainda que por ora não entenda a razão.





quarta-feira, 12 de junho de 2013

Clichês Individuais...


                 Estranho pensar que às vezes tememos demonstrar o que se passa em nossas cabeças pelo simples fato de acharmos que está errado assim, ou seria equívoco entrar no mar da dúvida que por ventura nos afoga. Acontece que a agonia em nós latente, na maior parte das vezes, não provém de um limite que nos é imposto por segundos ou terceiros, mas sim por nossa própria consciência.
Estamos constantemente elucubrando sobre nossa forma de ser e expressar, não sendo difícil tentarmos nos apoiar em exemplos de pessoas, livros ou filmes que nos parecem tão certos. Porém imagine que mundo enjoativamente perfeito seria se nossas vidas fossem regidas por clichês de filmes americanos, os quais alguns julgam ser a forma mais leve de levar a vida. "O carinha popular esportista possui todas aos seus pés, mas se apaixona justamente por aquela que nem olha para ele". Duvido que alguém que acabara de ler a última frase já não sabia o que estaria escrito no término da mesma.
Talvez esse mundo  “clicheniano”  teria milhares de versões, 7 bilhões eu diria; porém, alguns fatos seriam equivalentes em todos eles. Não teríamos que resolver problemas que não são tão complicados, apenas carentes de alguns segundos de coragem para pormos um fim nos mesmos. Se vivêssemos nesses clichês, as pessoas já saberiam que seriam pedidas em namoro no dia dos namorados, a cidade de Nova Iorque ficaria abusivamente lotada no ano novo, os ditos “nerds” do ensino médio se transformariam em cantores de destaque de cabelo levemente jogado para o lado. Óbvio que todos nos casaríamos numa linda praia da Califórnia e teríamos sempre reunião de família obrigatória no natal, a qual começaria como um caos, mas terminaria numa alegre ceia.
Não digo que esses fatos não sejam de certa forma brilhantes, realmente não ficaria chateada se alguns clichês teimassem em acontecer. Todavia, tenho uma realização ainda a fazer: encontrar o meu próprio clichê. Encontrar a minha própria forma de fazer algo da mesma maneira sempre e que desse certo. Acredito que seja isso que muitos procuram tentando apenas repetir histórias já recontadas tantas vezes ao invés de tentar aperfeiçoá-las.
           Talvez um pouco de Carpe Diem e muita crítica há nestas palavras, ou não. As palavras já não mais se importam, pelo visto, de ficarem a mercê da interpretação humorística de cada um. Talvez por mais um clichê elas serão mal interpretadas... ou não.


domingo, 5 de maio de 2013

Agora talvez a gente saiba viver...

    E lembro-me tanto do quanto éramos meninos. Lembro-me de quando nossos pensamentos não se faziam tão complexos e tínhamos as respostas certas para as perguntas que hoje embaralham nossa mente. Lembro-me de quando habitávamos um mundo sem metafísica, mas também lembro-me perfeitamente de quando percebemos a existência da mesma.
        Foi estranho acordar para uma nova perspectiva e, ao pensarmos no que já fomos, ah, como éramos ingênuos. Almas despreocupadas, tão certos de que seríamos daquele jeito para sempre. Um para sempre, hoje, deixado apenas no mundo paralelo que vivemos todas as noites. Aquele mundo que se parece tão doce e que a cada nascer do sol às vezes não temos a capacidade de lembrar do que aconteceu por lá. Para alguns, o desejo de viver nesse mundo paralelo pode ser latente, mas pensemos bem. Viver sem ter lembranças ao acordar não é viver, amar sem se lembrar não é amar, sonhar no mundo dos sonhos não é ter o poder realizar. Sentimos aqui, na vida mundana da Terra, com muito mais intensidade e temos o total poder de administrar nossa vontade, enquanto nos sonhos, apenas assistimos a situação. Infelizes terceiras pessoas incapazes  de manifestar  suas sensações de insatisfação.
        Lá não há surpresas, suspiros nem um coração para se consertar. Lá não há mensagens a se receber nem aspectos para se estudar. Talvez o melhor de tudo é que não teriam critérios para nos testar, mas também não teríamos aqui um motivo para nos importar. É provável que o mundo trazido pelas estrelas que aparecem no céu seja perfeito para cada um e de uma magnitude inexplicável, mas enquanto as mesmas se camuflam da luz energizante deveríamos ser capazes de acreditar. Por mais complicado e improvável, por mais sereno e palpável. Tudo é sim mutável.

 

quinta-feira, 28 de março de 2013

Só enxergar, só isso...

     Para aprender se precisa de tempo, paciência, curiosidade e, lógico, novas realidades. 
       Inacreditável como num futuro imprevisto voltam as pessoas que você nunca imaginara ver de novo, ou talvez nunca pensara em ter a oportunidade de conversar, conhecer, conviver. Foi então com pessoas de meu passado que nem ao menos lembram da minha existência anterior que cheguei a algumas conclusões.
       Sabe, a moral da vida toda é ser diferente. Seja por você ser canhota, seja por possuir um nome de grafia diferente ou até mesmo por querer fazer um curso sobrenatural no vestibular. Ser diferente não é simplesmente sair por aí com um cabelo de cor exótica, alargadores e roupas que nunca foram da moda. Ser diferente não é sinônimo de chamar a atenção, mas sim saber ver o mundo do modo mais simples e sutil que ele é capaz de se mostrar. É ter o dom de pensar sobre tudo e nada ao mesmo tempo. É acreditar na capacidade de cada uma das pessoas com as quais nos relacionamos e poder enxergar, principalmente poder enxergar, que o Tempo não é nada além daquilo que nós interpretarmos.
        Para mim, agora, o Tempo não passa, simplesmente, avulso pelo vento. Ele é uma constante que nós teimamos em marcar com nossos números, os quais voltam e se repetem incansavelmente, mas incapazes de demonstrar o verdadeiro significado de tudo. Assim como o Infinito, o Tempo não se vê, não se mede, apenas se sente. Nós podemos perceber o quão importante ele é, podemos perceber sua magnitude, mas na realidade ele nem se importa com que saibamos ou não sua real história. Ele apenas coexiste dentro de nós. Talvez algumas pessoas pensarão em como dar importância ao Tempo é supérfluo. Eu também acho isso em meus dias mais sensatos. Pensar no Tempo é tão medíocre enquanto há problemas tão graves a se resolver. Mas também acredito que somente vendo essa superioridade do mesmo sobre nós é que damos real valor ao que ainda está por vir, ao que infelizmente já passou e até mesmo ao que está acontecendo. 
       É sabendo da voracidade fervente do Tempo que damos completo foco ao Agora, sedento de vida e vontade. Somente compreendendo a impaciência do Tempo, que corre e escorre apressadamente por nossas veias, é que somos capazes de enxergar o sentido de cada elétron tocado ou cada reflexo perpétuo de nossos passos. 






domingo, 17 de março de 2013

O dia...

       E chega o dia em que percebemos como damos valor e nos importamos com pessoas ou acontecimentos tão supérfluos, os quais em nada deveriam ter o poder de influenciar. Nem em nossos atos, pensamentos e muito menos nas nossas formas de ver o mundo .
      Do absoluto nada, no momento mais inesperado, nos deparamos com a realidade e ela deveras nos apavora. Faz nossa mente abolir qualquer ideia incapaz de provar que merece atenção. Conforme crescemos e temos que cuidar de nossas próprias responsabilidades, nunca passa por nossas cabeças que algumas eventualidades têm a possibilidade de nos atingir. É como se tivéssemos a certeza de que todos nossos entes queridos estão protegidos da espontaneidade do mundo.  
       Por algum motivo qualquer, então, você pisca. Milésimos de segundo, nada mais que um bater de asas, mas tempo suficiente para a notícia ancorar em seus ouvidos. Feliz daquele que tem a chance, diga-se dádiva, de não chegar a essa conclusão recém feita desde primeiro e delicado até seu último e vivido suspiro. Porque às vezes aquele pensamento lateja e choro sem piedade, assim como se comporta a tristeza que se alastra e pesaria os olhos de qualquer um em uma certa silenciosa tarde de segunda-feira.
       Escrevo na dúvida que a noite por si carrega e o sol me trará mais notícias, as quais espero de forma indescritível, atordoada, esperançosa, talvez até revoltada. Independente da resposta, eu quero saber, pois talvez Dickinson não tenha razão e eu quero poder tentar entender.


quarta-feira, 13 de março de 2013

Desde o que parece sempre...

Cada segundo de momentos inéditos
Uma palavra ao som de um sorriso
Cada prateleira coberta de semelhança
Todo sentimento se transforma no paraíso

Gosto de lembrar do defeito de cada momento
Aquela bizarrice que o tornou perfeito
Tanta luz dali se via
Quem dera vivesse, assim, todo dia

Acreditar na felicidade crescente
Que se esbalda na alma antes mesmo do poente
Laços fraternos que nascem de olhares
E como se não quisessem nada
Conseguem, enfim, encontrar sua morada



segunda-feira, 4 de março de 2013

E continuam querendo...

Vivia falando de falsos amores
Criticando talentosos cantores
O que sonhei hoje
Se desfaz mais a tardinha
Quisera eu poder usar da magia
A meu favor na inquietante correria

Passos largos damos buscando credibilidade
E é difícil se conformar com a sociedade
Enxergo apenas a luz da noite
E olha que não é tão simples viver
Numa época em que só querem te fazer esquecer


terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O que pode ser chamado de fim...

         É estranho pensar que dedicamos tantos anos de nossa história entre as paredes de algumas instituições, mas que escolhemos apenas uma para nos acolher no tão esperado ano.
       Pensando em todas as possibilidades de por que geralmente o terceiro ano é o mais lembrado por todos, só consegui chegar a uma conclusão. É durante as últimas férias escolas, mais precisamente nos últimos dois dias da mesma, que cada indivíduo por si só percebe a importância dos meses que estão por vim. 1º: Passar de ano, lógico. 2º: Ter a capacidade de escolher um curso para prestar no vestibular. 3º: Estudar para esse exame submetido a todos que pretendem fazer um curso superior. 4º: Psicologicamente, seria nossa última oportunidade de aproveitar a juventude sem maiores preocupações da vida adulta, mesmo que muitos não tenham 18 anos e mesmo que alguns já tenham. Como 5º aspecto importante? Em que outro universo poderemos ver todas as manhãs os sorrisos que faziam o 'levantar da cama tão cedo' valer a pena?
         Parece que quando as aulas começam, diga-se do ano mais incrível de nossas vidas, s, alunos, sentimos uma necessidade extrema de suprir cada segundo não aproveitado no passado. Cada segundo gasto numa reclamação ou numa discussão que até hoje nem ao menos lembramos do motivo de ter ocorrido. Em breve os cadernos serão história e a farda eternizada nas fotos. A plaqueta e a boina serão conservadas e aqueles que nunca gostaram da escola, talvez comecem a pensar no que foi bom o suficiente para ser guardado.
       Dificilmente o sentimento que reside nessa história se repetirá, mas não há nada melhor que ter feito parte de tantas vidas e saber que continuará fazendo nem seja por apenas um tempo, é só se permitir. Aliás, sem querer assustar, o início do fim se aproxima.



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

De volta ao que parece um passado antigo...

    Às vezes, numa viagem, você acorda com uma vontade tremenda de voltar para casa. Surge uma imensa saudade de ganhar aquele abraço apertado, de frequentar aquele quarto familiar e de sentir um cheiro conhecido. O mais estranho de tudo é perceber que quando deitamos a cabeça no travesseiro à noite, toda essa melancolia passou.
    Passar 26 dias inteiros com pessoas que antes dos mesmos eram apenas desconhecidas pode ser surpreendente. Durante o tempo em que passamos juntas, de certa forma aprendemos outro sotaque e aprendemos a não julgar alguém por nada. É como se passássemos a conhecer 15 anos de uma história complexa e, ao mesmo tempo, começássemos a fazer parte dela.
    Já no primeiro dia de convivência nós nos permitimos ter paciência e coragem de nos deixar gostar. Percebemos que chegar alguns minutos atrasados, em Londres, é perder a melhor peça de teatro num palco tão simples, é não comer as batatas fritas no final do almoço e não poder tomar um banho quente ao voltar para casa. Nós percebemos que algumas manias de certas pessoas nos irritam profundamente, mas que a gente tem que se acostumar, assim como a pessoa o fará com os nossos vícios que talvez possam a tirar do sério. 
      Foram durante os 26 dias que criamos um laço diferente. Primeiramente pensamos que teríamos que fazer uma amizade forçada pela convivência incentivada na viagem, todavia começamos de uma forma única: jogando poker no chão de um aeroporto movimentado e, daquela roda em que estávamos, já saímos com apelidos e planos de nos vermos num futuro quando de volta ao Brasil. Foi uma afinidade muito rápida que criamos, eu diria, mas que nunca deu tão certo.
       De tudo, o que eu penso é que nós tivemos uma oportunidade única de vivermos muitos anos e visitarmos muitos séculos em apenas alguns dias. Foi incrível, divertido, mágico ou qualquer outra palavra superior que você queira usar para descrever um momento que, de alguma forma, você sabe que fará muita, mas muita falta. E digo mais: FOI legal!

sábado, 19 de janeiro de 2013

Novo ponto de vista...

     Viajar, ficar longe, bater a saudade. Três sensações que se completam e o melhor de tudo é saber que sim, você irá sentir falta.

Dando início ao pensamento de uma avaliação sobre pelo que tem passado, você percebe que olhar para aquele quadro que pintou quando ainda era criança não é mais tão empolgante, as fotos já amarelaram na estante e o revestimento do baú, que costumava ser histórias em quadrinhos, hoje está impregnado na sua mente de tão repetido. Você decide abrir a janela do seu quarto que fica no segundo andar da parte de trás da casa. Entra um vento com o mesmo cheiro de folhagem de sempre, afinal, seu vizinho dos fundos tem mania de cortar a grama todos os sábados. O sol entra quente iluminando sua escrivaninha e a vizinha da diagonal novamente estende as roupas em sua sacada. São dez da manhã e em quinze segundos você ouvirá aquele som de serra da obra que está ocorrendo no vizinho da esquerda... E... Pronto, aí está o barulho!

Descendo as escadas, cumprimenta sua família, passa a mão nas orelhas da cadelinha de estimação. A gata já mia alto, estranhamente pedindo colo, mas você ignora porque está usando seu pijama favorito, para quê enchê-lo de pelos, não é!? Na cozinha, um café com leite e talvez um pão feito em casa pela avó... Quer dizer, não que você esteja reclamando de ter pão, você levantou por causa do cheiro que alcançou seu quarto enquanto ele assava no forno à gás, não foi? Mas é claro que sim.

Você deixa, então, passar uma hora. Ouve a água chiar no fogão e antes que ferva, desliga. Hora do chimarrão. O irmão chato desce do quarto, mexe desesperadamente no seu cabelo somente pela emoção de bagunçá-lo e te deixar irritada. Momento de desligar a televisão da sala de estar, ir para a varanda e esperar todos da casa chegarem para dar uma conversada sobre qualquer assunto que surgir. A cadelinha parece querer a atenção toda e não sai do meio da roda feita com as cadeiras de praia, mesmo com a garrafa térmica lá, exatamente no centro. Alguns litros de água depois, a que estava dentro da garrafa térmica acaba e, reza a lenda que quem tiver o privilégio de tomar o último chimarrão servido pelo contingente da garrafa ganhará um presente. Digamos que até hoje ainda estou esperando os dois que eu mereço.

            Depois do almoço, hora de ler um livro viciante ou um filme talvez irritante. Conversar com quem quer que seja pela internet ou ver vídeos a tarde inteira deitada em sua cama com a janela totalmente aberta, pois é verão e um vento não cairia muito mal  no momento. Quando a noite chega, infortunadamente você esqueceu a janela aberta. Então na hora de dormir você passa repelente porque os mosquitos parecem ter dominado seu quarto e você tem pavor ao cheiro do veneno que o resto da família usa. Sim, desculpa acabar com a sua ilusão, mas as propagandas mentem, o veneno tem cheiro.

            Caro leitor, se você chegou até aqui na leitura deste texto deve ser muito corajoso, só pode. Mas onde quero chegar com tudo isso? Que, bom, hoje não é um sábado normal como esse recém descrito. Dentro de algumas horas meu avião para São Paulo decolará do Aeroporto Internacional Salgado Filho e daqui há longas horas, de Guarulhos para Londres.


Quinze anos, e quem diria que a guria que desde seus quatro anos estava determinada a fazer um intercâmbio no lugar de dar uma festa estaria realmente realizando seu primeiro sonho de menina. Nunca deixei de acreditar, mas ainda assim é simplesmente inexplicável. Quando disse lá no início do texto que o melhor de tudo isso é saber que eu vou sentir falta é porque, nesses quinze anos de história, eu cativei mais do que imaginei que o faria. É como se eu tivesse construído um lar, com alicerces bem firmes e, não importa para onde eu vá, carregá-los-ei dentro de mim. Já dizia Mário Quintana que viajar é mudar a roupa da alma, eu concordo e ainda acredito que é a melhor forma de mudá-la. A viagem em si pode ser um dos momentos mais intensos de nossas vidas e nada melhor do que saber e ter a plena consciência de que temos não simplesmente um lugar no mundo para retornar, mas alguém pelo qual vale a pena voltar.