quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Escritos Antigos.


Escrevo para desabafar, escrevo para me confessar, escrevo para não surtar. Meu remédio de dias tristes, meu limite de dias contentes. Meu modo de não apoquentar quem eu amo com meus extremos de personalidade.
Tão chato ser trágico, tão chato ser otimista. Incomoda ser realista, estranham se lê filosofia. Pessoa, Dickinson, Sparks, Perkins e  Nietzsche, grandes amigos para dias em que uma xícara de chá com leite acompanha os mais variados pensamentos da vida corrente. Tudo muda o tempo todo e o que pensei eternizado já foi até deixado em folhas amassadas numa tarde de inverno num dos bancos da Redenção, ao lado de uma barraquinha de pipoca doce. Aquela pipoca que você saboreou enquanto comprava terrenos com dinheiro falso e seus passos eram controlados por dois dados azuis transparentes.Você era apenas um pedaço de metal.
Descobrir que ama alguém no momento em que vê ele atravessando a rua e, na sua cabeça, surge um novo assunto que gostaria de conversar, um novo abraço que gostaria de dar, mas com o mesmo perfume, gostaria de também receber. Sussurros que trazem segredos inquietantes, inexplicáveis conspirantes. Sabe mais dos seus dezesseis anos de história do que aqueles que comemoram seu aniversário do seu lado desde que se lembra ser sempre. Conhece suas manias, convive com seus medos. Consegue tirar suas angústias e te afastar da ideia do que achava que seria apenas mais um dia de tédio.
Estranho sentir o tempo tão refulgente em seus mais ultrajantes desfiles que passam enquanto somos distraídos pelo vento ou pelos próprios olhares de quem isso não entende. As cores se transfiguram e não mais é discernido aquele vulto de seriedade do seu sonho de verdade.
Talvez nada mais faça sentido e muito difícil se repita o ocorrido. Nos conformemos com o silêncio e não podemos esquecer de lembrar das palavras já escritas. As pronunciadas para sempre serão relembradas e, quem um dia ousar, recontadas, mas as escritas, se reconstruídas, se tornarão enjoativas, pobres fonemas que servem apenas de acalento ao mais conturbado contento. 


quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Acreditar, apenas.

- Mãe, isso não está certo!
- O quê, filho?
- Isso tudo que dizem sobre felicidade num relacionamento entre pobres e ingênuos adolescentes.
- Olha a ironia de novo. Como assim, querido?
- Ah, mãe, eu achava que era bem mais fácil. Sou uma pessoa que vai direto ao ponto, mas daí dizem que também perde a graça, então me sinto perdido.
       Assim se começou a conversa entre meu primo, de seus 17 anos na época, com a minha tia, no caso mãe dele. Era aniversário do meu tio e estávamos todos na casa deles para a comemoração. Ventava muito e minha tia estava na cozinha fazendo pipocas para as crianças presentes. Eu acabei indo junto para ajudar e meu primo já estava lá sentado mexendo no celular.
- Miguel, pode falar, o que está acontecendo contigo?
- Vamos criar uma situação hipotética de que eu estaria gostando de alguém...
- Com quem, no caso, estaria trocando mensagens no celular agora.
- Cala a boca, Hannah! Mãe, - e ele virou o rosto para ela - só que eu não soubesse absolutamente nada que essa garota pensa, nada mesmo, como eu deveria reagir?
- Se tu conhece ela há um tempo, acho que o mínimo que tu deveria saber é como essa garota faz suas decisões em relação a qualquer assunto. Desde o colégio em que estuda até músicas que gosta. Não que isso seja relevante, mas é que é um assunto para se ter, né! E uma forma de mostrar que se importa com a forma que leva a vida.
- Hm, e se eu comecei a falar com ela há uns meses e a gente já saiu algumas vezes, mas ela não se mostra muito interessada embora sempre se mostre muito disposta?
- Tu saiu com ela, filho? Em que tempo?
- Aaaahh, que tu vai me dar o nome dela pra eu saber quem é!
- Hannah! Shiu! Saí, umas três ou quatro vezes. 
- Tá, parei, tô só achando bonitinho. Continue, Mimi.
- Já disse pra não me chamar assim. Tá, tanto faz agora. Mãe?
- Bom, aí depende muito do que tu pretende ter com essa moça.
- Ah, mãe, eu gosto realmente dela, mas tenho medo de fazer qualquer objeção ou sei lá. Parece que estou em constante observação e ela parece tão madura pra uma guria de quinze anos. Às vezes, me sinto um retardado falando com ela.
- E tu já parou pra pensar que ela também pode ter essa mesma sensação?
- Impossível! Ela é muito segura.
- Ué, pode parecer. Tu mesmo disse que não sabia o que se passava na cabeça dela.
- Ah, é diferente, eu acho.
- Não me venha com "é diferente, eu acho", não é diferente. Os sentimentos das pessoas podem ser um tanto complicados, seja por medo e precaução, seja pelo simples fato de não querer perder o foco por mais que queira que algo diferente aconteça.
- Primo, vou te falar. Tenho muitas amigas agora nessa fase inicial de relacionamento e elas têm muito medo de apostar em algo que será perda de tempo. Talvez a...
- Anna. - ele disse olhando para os dedos que tamborilavam na mesa.
- Talvez a Anna também se sinta assim e queira apenas que tu mostre que merece pelo menos parte do tempo dela que, convenhamos, se ela é tão "madura" como tu diz, deve ser precioso.
- Tu tem só dezesseis anos, não sei se deveria acreditar em ti.
- Dezesseis anos de muita pesquisa, com licença. Tia, conversa com ele e deixa que eu mexo a panela.
- Obrigada, cuida pra não se queimar! Miguel, escuta. A Hannah tinha lá seu fundo de razão. - fiz uma careta para ele na hora, que sorriu - Não conheço essa tal de Anna, e é melhor eu conhecer logo, mas acho que ela realmente procura essa iniciativa por tua parte. Ela pode talvez dar algumas indiretas que tu tem que saber entender, não passa de um jogo que ambos querem, de certa forma, ganhar. Além disso, ela tem 15, tu tem 17, é teu dever tomar essa responsabilidade.
- Não que seja totalmente obrigatório, mas mostre que se importa. Isso é o mais importante.
- Mande flores!
- Não, tia, isso não! Ela pode não gostar, ou ser alérgica também. Espere conhecer ela melhor para fazer isso.
- Hannah - chamou Miguel, embora não tivesse levantado o olhar ainda - é provável que tu possa saber isso.
- Como?
- Bom, lembra da Anna que viajou contigo janeiro passado?
- Ai, meu Deus! Aquela Anna? Miguel!!
- Ai, Hannah, acontece!
- Acontece? Eu vou te dar uns tapas...
- Cuida que tá começando a estourar os milhos. - Disse a minha tia quando eu virei de costas para o fogão. - Mas o que tem ela, Hannah?
- Tia, o que ele disse é verdade. Ela é realmente muito "mãe" pra idade dela.
- Exatamente! - Miguel concordou.
- Filho, então tenho poucos conselhos para te dar. - minha tia arrumou o cabelo, colocou uma mão na cintura e apontou para o Miguel e digamos que até eu temi naquele momento - Mostre que se importa com ela, não fique dando essas crises existenciais porque esse tipo de garota não é de ficar se fazendo por aí. Se ela já mostrou que gosta de ti em um dia e não fez nada que ateste o contrário, continue confiante. Todavia, não seja aquele tipo de cara grudento também, só o suficiente. Faça ela rir e não torne insignificante algo que ela pensa ser especial. Ah, e o mais importante, se apaixone, porque é saudável, mas não idealize, porque decepciona. Acho que é só isso por enquanto.
       As palavras da minha tia me surpreenderam e marcaram tanto que eu me recordo daquela luz branca da cozinha e do cheiro daquela pipoca com manteiga até hoje, mesmo um ano depois. Eu pensei, naquela noite, se não responderia diferentemente as perguntas do Miguel se tivesse mais tempo para pensar, assim como sempre tenho respostas melhores para as perguntas feitas só depois, quando eu já respondi a primeira vez e ficaria sem sentido "responder" de novo. Felizmente, não encontrei palavras diferentes. Minha tia foi sábia em falar de paixão e idealização, nunca tinha pensado daquela forma, mas faz muito sentido agora.
          Conto tudo isso porque reencontrei, semana passada, o Miguel e ele apenas disse:
- Obrigado, pirralha!
- Tu vai ver a pirralha, Mimi.
- Ai, como eu te odeio!
- Disponha.
           A quem interessar, Miguel e Anna ficaram mais umas duas semanas naquela angústia de não saber o que fazer, mas decidiram tentar. Estão juntos há nove meses e, mesmo com alguns percalços da faculdade e brigas por bocabertices, sentem-se, no mínimo, felizes e deveras focados. Digo isso como se fosse algo muito grandioso, não é!? Bom, para eles é, então, por que acabar com a emoção de uma história toda?