domingo, 15 de março de 2015

Estranho seria.

           
Acho que foi no ano de 2009 que comprei meu primeiro All Star. Ele era preto, de cano alto. Hoje tenho certo receio, evidentemente, em usá-lo, mas nunca quis me desfazer dele. Ele pode estar um pouco rasgadinho, talvez o branco da ponta já está mais amarelado, mas pelo menos sei que ainda está comigo. 
            Recordo-me do dia que ele começou a estragar mais do que deveria, deve ter sido das longas horas que o calçava e andava para lá e para cá pelos tijolos que cercavam meu colégio de Ensino Fundamental. Pensei em encontrar um novo para fazer companhia para ele. Mas eu queria que fosse um azul.
            Jamais, na minha vida, pensei que seria tão complicado e cheio de empecilhos encontrar um All Star Azul. Já havia gostado de tantos, mas nunca verdadeiramente me apaixonado. Parece idiota os termos utilizados, mas qualquer um que já teve um All Star sabe que temos com eles uma história de amor, que não deveria se apagar por qualquer coisa.
Até que aconteceu. Encontrei um par anos depois. Foi rápido, foi impressionante e totalmente inesperado. Eu ficava contente só de pensar na possibilidade de andar com ele por aí. Era um All Star Azul único, diferente. Contra todas as possibilidades, ele me fazia confortável na manhã mais inútil. E me reconfortava ainda mais à noite passado o longo dia, mesmo na mais escura e quente do verão. Sim, do verão. Quase ninguém gosta de ter um All Star no verão, não é? Mas eu achava bem legal.
Porém tão rápido quanto veio, foi embora sem nenhuma chance de eu realmente o tirar da gaveta uma última vez. Pelo menos foi o que me pareceu. Não entendi, não entendo, exatamente o que aconteceu. Era uma tarde de sábado e, por algum motivo, meu All Star Azul estava mudado. Seus cadarços não mais faziam um nó bonito, aquela borrachinha vermelha que separa o tecido da sola havia desgrudado. Pensei que pudesse ter conserto, mas o sapateiro não parecia se importar com o que eu queria, apenas pegou o meu All Star Azul.

Enquanto isso, o preto de cano alto continua aqui, com pouquíssimas esperanças de alcançar a vida que ele esperava, mas está aqui. Aposto que ele vai virar um chato daqui um tempo de novo, como sempre vira. Do nada, e não mais que de repente.