sábado, 10 de janeiro de 2015

Sobre amizade, daquelas de verdade.

       Amizade, sem dúvida, nasce de uma forma inesperada. É uma expressão do sentimento mais puro da humanidade. Não digo que o amor entre casais e familiares não o seja também, mas o amor entre amigos é, além de tudo, uma escolha por afinidade e simpatia. É difícil imaginar que, no ano de 2015 em que nos encontramos, é raro uma amizade se manter fora do mundo virtual.
       Por mais que as pessoas tentem, a rotina árdua de estudo e trabalho não mais está restrita a apenas uma faixa etária. Todos estão, de algum modo, envolvidos e tendo que conviver com ela. A evolução tecnológica, ainda que não suficiente, auxilia nesse ponto a partir do momento em que facilitou e agilizou as conversas por mensagem de texto, voz e, algumas vezes, até por vídeo. Pode, inclusive, aproximar um pouco o que (ou quem) está distante.
       Porém, amizade de verdade não se faz através de teclas e caracteres. Amizade de verdade é aquela que a distância não interfere pois a vontade de se ver é maior que ela. Dizem que isso é clichê, mas qualquer que possa chegar a ser o melhor sentimento do mundo, se bem analisado, se desmistifica como um clichê que deu certo. Amizade é compreender a falta de tempo, ou a sobra dele nos momentos de tédio; é comprar um presente completamente errado só para ver a reação do amigo, que por anos vai reclamar do que ganhou na mesma intensidade em que também vai rir contigo, ou comprar um extremamente certo, e vê-lo descrente; é passar por aqueles momentos de angústia que ninguém esperava olhando nos olhos vermelhos e inchados, passando a mão nas bochechas para secá-las numa forma de reconforto; e, principalmente, é entender as situações em que esse reconforto demorará a ser sentido novamente.
       Não adianta, o tempo passa, os caminhos diferentes se percorrem e ser amigo apenas não basta. Amizade é mais que isso. É basicamente um comprometimento que ninguém percebe estar fazendo exatamente porque é natural, ainda que não instantâneo. Amizade é sim, em uma de suas tantas verdades, se fazer sentir presente, ou, em alguns casos mais complicados e lastimosos, ausente.
       As redes sociais, então, não passam de um auxílio para amizades que se concretizaram fora dali. Longe daquele mundo de letras perfeitas, margens alinhadas e corretores ortográficos automáticos. Os sons de risada, as frases de efeito com certa entonação que lembram alguém, as "saídas", tudo insubstituível. Por mais que a vida não mais permita, há lá a memória uma parte que eterniza o que realmente jamais deixará de ser uma amizade verdadeira.



(Redação UFRGS 2015 - adaptado)

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