domingo, 6 de setembro de 2015

Quando se tem 18.

       Desde pequena tinha certo receio que a idade mudasse meu jeito. Tinha medo de ficar chata, de ser daquelas pessoas que senta todas as noites para assistir Jornal Nacional e que achasse chato os desenhos de Tom e Jerry. Nunca quis ser daquelas pessoas que não têm tempo para si ou para outros, não queria ser o tipo de pessoa que está sempre de cara amarrada. Sempre sonhava que com 16 anos eu seria uma jovem já muito bem decidida e sairia sempre com as amigas. Além de que nunca pensei na possibilidade de passar o dia dos namorados dos meus 18 anos todo sozinha na biblioteca da faculdade. Não achei que minha vida acadêmica e frustrações amorosas me barrassem a criatividade para seguir escrevendo, já que gosto tanto.
        Acabou que nunca mais assisti Tom e Jerry, ainda que me encante com cada desenho que a Disney lança. Agora assisto o Jornal Nacional, meio a contragosto, mas é necessário porque não estamos sozinhos neste mundo. Acabou que meu romantismo está um pouco afogado com tantas lágrimas que meu travesseiro aguentou nos últimos anos, ainda que ache incrível quando alguém o desperta, mesmo que ainda espere pelo dia que quem o desperte tenha a real intenção de mantê-lo aceso. Ah, e sobre as amigas.. Fiz mais amigos mesmo, mas não que a gente consiga se encontrar com a frequência que bem poderíamos.
        Quando fiz 18, me falaram que nada além da adição da carteira de motorista no meu currículo mudaria, e realmente, no currículo não mudou muito mais que isso e 2 semestres na faculdade. Porém comecei a ler textos antigos e percebi quanta esperança e aprendizados interessantes por mim passavam e eu transmitia em sentimentos tão puros e singelos nas palavras mais bem escolhidas da madrugada. Agora, não há tempo de escrever durante a aula porque absolutamente tudo é importante e deve ser anotado, já não consigo ficar acordada até mais tarde a não ser para fazer um trabalho porque todos os dias são exaustivos, tenho que sempre correr porque se perder meu ônibus levo mais uma hora para chegar em casa. Fico pensando em minhas aspirações de dez anos atrás, e como tudo muda. 
         Certa vez, numa conversa parecida de infância vs. adolescência com um amigo meu, chegamos a conclusão que o tamanho dos nossos sonhos correspondem ao inverso da nossa idade, e não canso de pensar que isso é verdade. Apenas um sonho é estritamente permanente: ser feliz. Uma criança não sabe isso, mas quando ela responde o que quer ser quando crescer, ela diz a profissão em que mais acha que será feliz, por isso normalmente é "veterinária" ou "astronauta", pois querem estar perto dos seus cachorrinhos de estimação ou simplesmente serem capazes de voar o mais alto que pensam ser possível. Todavia, quantos seguem querendo ser veterinários depois que crescem e se informam sobre a carreira?
           Já adultos, quando perguntados sobre o futuro, respondem: "ter uma estabilidade financeira, um bom emprego e ser feliz". Parece que a felicidade está a parte da carreira, e isso é muito constrangedor quando posto assim, porque, sinceramente, não deveria ser. Vivem um cotidiano baseado mais em saudade do que apreciar momentos para então senti-la.
             Enfim, para resolver tudo isso, procuro sorrir para não ser a adulta de cara amarrada que eu pequena achava estúpido. Procuro contentamento na minha carreira e mesmo que tenha umas boas pedras, tento chutá-las e com isso me distraio. Procuro em livros a explicação racional da vida. Procuro por aí, em um rosto que me encante, um romance ainda que descrente. Sigo feliz pelas conquistas alheias, e luto cada vez mais pelas minhas, porque não só a idade aumenta, mas a dificuldade desse jogo de cartas que é a vida toda, como diz Jostein Gaarder, vai subindo de nível. Meu único medo é que nunca sei em que nível de dificuldade a gente está.




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