sábado, 19 de janeiro de 2013

Novo ponto de vista...

     Viajar, ficar longe, bater a saudade. Três sensações que se completam e o melhor de tudo é saber que sim, você irá sentir falta.

Dando início ao pensamento de uma avaliação sobre pelo que tem passado, você percebe que olhar para aquele quadro que pintou quando ainda era criança não é mais tão empolgante, as fotos já amarelaram na estante e o revestimento do baú, que costumava ser histórias em quadrinhos, hoje está impregnado na sua mente de tão repetido. Você decide abrir a janela do seu quarto que fica no segundo andar da parte de trás da casa. Entra um vento com o mesmo cheiro de folhagem de sempre, afinal, seu vizinho dos fundos tem mania de cortar a grama todos os sábados. O sol entra quente iluminando sua escrivaninha e a vizinha da diagonal novamente estende as roupas em sua sacada. São dez da manhã e em quinze segundos você ouvirá aquele som de serra da obra que está ocorrendo no vizinho da esquerda... E... Pronto, aí está o barulho!

Descendo as escadas, cumprimenta sua família, passa a mão nas orelhas da cadelinha de estimação. A gata já mia alto, estranhamente pedindo colo, mas você ignora porque está usando seu pijama favorito, para quê enchê-lo de pelos, não é!? Na cozinha, um café com leite e talvez um pão feito em casa pela avó... Quer dizer, não que você esteja reclamando de ter pão, você levantou por causa do cheiro que alcançou seu quarto enquanto ele assava no forno à gás, não foi? Mas é claro que sim.

Você deixa, então, passar uma hora. Ouve a água chiar no fogão e antes que ferva, desliga. Hora do chimarrão. O irmão chato desce do quarto, mexe desesperadamente no seu cabelo somente pela emoção de bagunçá-lo e te deixar irritada. Momento de desligar a televisão da sala de estar, ir para a varanda e esperar todos da casa chegarem para dar uma conversada sobre qualquer assunto que surgir. A cadelinha parece querer a atenção toda e não sai do meio da roda feita com as cadeiras de praia, mesmo com a garrafa térmica lá, exatamente no centro. Alguns litros de água depois, a que estava dentro da garrafa térmica acaba e, reza a lenda que quem tiver o privilégio de tomar o último chimarrão servido pelo contingente da garrafa ganhará um presente. Digamos que até hoje ainda estou esperando os dois que eu mereço.

            Depois do almoço, hora de ler um livro viciante ou um filme talvez irritante. Conversar com quem quer que seja pela internet ou ver vídeos a tarde inteira deitada em sua cama com a janela totalmente aberta, pois é verão e um vento não cairia muito mal  no momento. Quando a noite chega, infortunadamente você esqueceu a janela aberta. Então na hora de dormir você passa repelente porque os mosquitos parecem ter dominado seu quarto e você tem pavor ao cheiro do veneno que o resto da família usa. Sim, desculpa acabar com a sua ilusão, mas as propagandas mentem, o veneno tem cheiro.

            Caro leitor, se você chegou até aqui na leitura deste texto deve ser muito corajoso, só pode. Mas onde quero chegar com tudo isso? Que, bom, hoje não é um sábado normal como esse recém descrito. Dentro de algumas horas meu avião para São Paulo decolará do Aeroporto Internacional Salgado Filho e daqui há longas horas, de Guarulhos para Londres.


Quinze anos, e quem diria que a guria que desde seus quatro anos estava determinada a fazer um intercâmbio no lugar de dar uma festa estaria realmente realizando seu primeiro sonho de menina. Nunca deixei de acreditar, mas ainda assim é simplesmente inexplicável. Quando disse lá no início do texto que o melhor de tudo isso é saber que eu vou sentir falta é porque, nesses quinze anos de história, eu cativei mais do que imaginei que o faria. É como se eu tivesse construído um lar, com alicerces bem firmes e, não importa para onde eu vá, carregá-los-ei dentro de mim. Já dizia Mário Quintana que viajar é mudar a roupa da alma, eu concordo e ainda acredito que é a melhor forma de mudá-la. A viagem em si pode ser um dos momentos mais intensos de nossas vidas e nada melhor do que saber e ter a plena consciência de que temos não simplesmente um lugar no mundo para retornar, mas alguém pelo qual vale a pena voltar.

 

 

Um comentário:

  1. Nossa Filhota, Não sei como você consegue melhorar a cada texto. Um Beijão e Muito BOA VIAGEM !
    Que este seja o primeiro intercâmbio de muitos estudos neste mundão afora.

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